O projeto se propõe a compreender um tipo específico de disputa, que aqui chamaremos de conflito de valoração: aquela a ter lugar quando os atores sociais participam de situações nas quais o valor de um bem esteja em questão, notadamente aquelas em que a posse ou a troca deste seja o problema (mas sempre com o horizonte na pergunta sobre o quanto ele vale em um duplo registro, objetiva e subjetivamente), gerando possibilidades claras de ruído na sociabilidade. O ponto de partida da análise é o fato de que essas disputas, ao colocarem as pessoas frente a frente por conta do que possa ser considerado um objeto de valor (para elas), revelam como elas operacionalizam a ideia de bem, envolvendo-se na explicitação necessária (e por conta da disputa, forçada) de dois de seus sentidos, a saber, o sentido moral e o sentido econômico. Assim, fazer um estudo sobre esse tipo de situação necessariamente conduz a observar e relacionar esse quadro semiológico e as possibilidades ao mesmo tempo de conflito – quando a negociação desses sentidos se torna um problema interacional) – e de suas modulações – quando é feito um movimento de constante ajuste das ações situadas, variando intensidades de investimento conforme se coloquem os desafios gramaticais, a fim de se evitar aquele conflito. Para dar conta dessa discussão, nos debruçamos sobre um conjunto variado de frentes empíricas, que dialogam na questão da valoração como fenômeno geral: 1) Um estudo sobre litígios entre próximos (casais e/ou familiares) por conta bens em varas de família e sucessões; 2) Um estudo etnográfico e documental de processos de desapropriação de casas em uma favela carioca; 3) Um estudo de uma rede informal de empréstimos financeiros populares a juros em uma favela carioca; 4) Um estudo com traficantes e ex-traficantes convertidos a uma igreja a respeito dos valores diferenciais entre o dinheiro advindo do ‘mundo do crime’ e o adquirido a partir do ‘trabalho honesto’; e 5) Um estudo sobre os conflitos entre moradores e uma concessionária de energia sobre o valor das contas de energia elétrica em uma favela pós-UPP.
Integrantes: Alexandre Vieira Werneck (coordenador), Jussara Freire, Eugênia Motta, Pricila Loretti, Breno Rabello, Diogo Correa