A sucessão de tragédias mundiais, sintetizada pelo nome Gaza, roubou de nós a força de palavras que nos permitissem manifestar repúdio, indignação e revolta, e que talvez nos ajudassem a elaborar o luto e a lidar com efeitos traumáticos. O esvaziamento da linguagem diante da dimensão indescritível e incalculável das atrocidades genocidas perpetradas contra o povo palestino coincide com a revogação das leis internacionais e com a substituição de política e diplomacia por força e arrogância imperial. A magnitude da carnificina embota as vozes da resistência e refrata as mazelas que testemunhamos em nosso país. 


Entretanto, é preciso insistir no truísmo: sofrimento evitável é sofrimento evitável, e é nosso dever lutar para evitá-lo, independentemente de escalas que o relativizem e da sombra dantesca projetada pelas catástrofes. Cada execução extrajudicial de um jovem negro e pobre em nossa vizinhança é a catástrofe estendida até nós, a nos convocar para o coração das trevas. As explosões distantes ecoam nos becos das favelas; o pranto das mães é um só; o mesmo fio de sangue nos une ao mundo atormentado pelos esgares do capital em agonia. Por isso, pesquisadores socialmente comprometidos e militantes por direitos humanos mantemos dupla conexão, dupla atenção: um olho no cenário geopolítico, outro nos territórios brasileiros vulnerabilizados. 

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