Nota de Pesar

O NECVU – Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana do IFCS-UFRJ, vinculado ao PPGSA, por seus professores, pesquisadores e estudantes  vem manifestar o seu imenso pesar pelo falecimento do Prof. Luiz Antonio Machado da Silva neste dia 21 de setembro de 2020. Desde a sua fundação, Machado da Silva emprestou o seu brilho e a sua competência ao NECVU, onde foi vice-coordenador e parceiro de muitos trabalhos e seminários. Um dos nomes mais importantes da sociologia e da antropologia urbana brasileira, autor de estudos de grande referência nas ciências sociais brasileiras, Machado da Silva nos deixa alguns anos após ter sido homenageado com o Prêmio de Excelência Acadêmica em Sociologia pela Associação Nacional de Pós-Graduação em Ciências Sociais. Machado orientou centenas de teses de doutorado e dissertações de mestrado e muitos de seus ex-alunos hoje ocupam posição de relevo nas ciências sociais. Desde o início, marcou a sua carreira pela originalidade e brilho de suas contribuições, como o artigo, hoje clássico, sobre a sociologia do botequim, e os inúmeros trabalhos sobre o trabalho informal, a favela, os movimentos sociais e, desde meados dos anos 90, sobre a sociabilidade violenta. Transcrevemos abaixo o texto em sua homenagem, lido na ANPOCS que o premiou em 2016, de autoria de seu ex-aluno e orientando de doutorado Michel Misse, coordenador do NECVU.

“Fiquei muito feliz quando fui convidado para apresentar o prêmio de Excelência Acadêmica em Sociologia ao professor Luiz Antônio Machado da Silva. Infelizmente, um vôo transferido em Paris, de ontem para hoje, impediu-me de estar presente nesta homenagem. Solicitei que minhas palavras chegassem a vocês e ao nosso homenageado.

Fui aluno do Machado – é assim que ele é conhecido por todos – há exatos quarenta anos, no IUPERJ. Ele havia chegado há pouco de seu doutorado na Rutgers University e eu havia recém concluído a minha graduação em ciências sociais no IFCS. Já o conhecia de um artigo, muito original para a época, publicado na revista América Latina em fins dos anos 60. O título parecia engraçado, mas o assunto era sério e muito bem desenvolvido: A sociologia do botequim. Não conheço quase ninguém de minha geração que não tenha lido com gosto esse artigo, em que Machado já antecipava uma de suas muitas virtudes, a boa mistura de sociologia com antropologia. Já em seu mestrado, no Museu Nacional, Machado antecipava todo um debate internacional, do qual ele foi reconhecidamente o pioneiro, sobre trabalho informal, informalidade, populações marginais.

O curso que frequentei há quarenta anos foi de sociologia urbana. Um curso e tanto, que poderia ser oferecido hoje, com a mesma bibliografia, tal é ainda a sua atualidade. Voltei a encontrar Machado, agora como orientador de doutorado, nos anos 90. Entre uma época e outra, Machado ficou conhecido não só pela excelência de seus cursos e de sua orientação acadêmica, como também pela sua contribuição decisiva aos estudos urbanos no Brasil, especialmente sobre as favelas cariocas, os movimentos sociais urbanos e, ultimamente, a violência urbana. Foi uma interlocução extremamente fecunda para mim e toda uma geração de estudiosos, em que sobressaíram a ênfase na violência como representação social e o originalíssimo conceito de sociabilidade violenta. Ele orientou mais de uma centena de teses e dissertações orientadas em todos esses anos. Muitos de seus ex-alunos estão hoje nessa plateia, certamente emocionados com a justa homenagem que agora recebe.

Em plena atividade no IESP, mesmo após a sua aposentadoria do PPGSA, continua a nos brindar com sua inteligência e generosidade com uma intensidade que poucos jovens disputariam. Digo em nome de todos que o admiram: A Machado, todos os louros!”